E não sobrou nenhum - Agatha Christie

| quarta-feira, 28 de dezembro de 2011 | 0 comentários |

Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move;
Um deles se engasgou, e então sobraram nove.

Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;
Um deles dormiu demais, e então sobraram oito.

Oito soldadinhos vão a Devon, passear e comprar chiclete;
Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.

Sete soldadinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.

Seis soldadinhos com a colméia, brincando com afinco;
A abelha pica um, e então sobraram cinco.

Cinco soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato;
Um ficou em apuros, e então sobraram quatro.

Quatro soldadinhos vão ao mar, um não teve vez,
Foi engolido pelo arenque defumado, e então sobraram três.

Três soldadinhos passeando no zôo, vendo leões e bois,
O urso abraçou um, e então sobraram dois.

Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então sobrou só um.

Um soldadinho fica sozinho, só resta um;
Ele se enforcou,

E não sobrou nenhum.


| quarta-feira, 9 de novembro de 2011 | 0 comentários |
O Bicho de Manuel Bandeira

 Vi ontem um bicho
Na imundicie do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.



Retratos

| sábado, 6 de agosto de 2011 | 0 comentários |
Os antigos retratos de parede
não conseguem ficar longo tempo abstratos.


Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
porque eles nunca se desumanizam de todo.



Jamais te voltes para trás de repente.
Não, não olhes agora!



O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim...
Sem fim e sem sentido...

Dessas que a gente inventava para enganar a solidão dos caminhos sem lua.




(Mario Quintana)

Pensamentos I

| domingo, 6 de março de 2011 | 0 comentários |
Tinha que existir uma pintura totalmente
livre da dependência da figura - o objeto - que,
como a música, não ilustra coisa
alguma, não conta uma história e não lança
um mito. Tal pintura contenta-se em evocar
os reinos incomunicáveis do espírito,
onde o sonho se torna pensamento, onde o
traço se torna existência.

(Michel Seuphor)

Conclusões

| segunda-feira, 24 de janeiro de 2011 | |
       O desconhecimento de suas possibilidades internas e dos segredos que se aninham nas profundezas de sua alma tornou o homem cético a respeito de seu próprio destino.

 
        Saiba ele encontrar a chave de sua evolução na lei que o proclama herdeiro de si mesmo e conhecerá o porquê das angústias que padece, questão sobre a qual não encontrou ainda explicação alguma que lhe satisfaça.


(A Herança de Si Mesmo - Carlos Bernardo González Pecotche)

A Morte Mandou Lembranças

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A solidão não me feria como uma temível inimiga. A solidão agia como uma doce amiga, que mesmo quando o mundo virava as costas para mim ela estava ali. Onde meus olhos não conseguia enxergá-la, mesmo quando o frio me fazia tremer e minhas pernas enfraquecer, ela estava ali silenciosamente para me abraçar.
E quando a morte chegou finalmente a mim, você doce solidão, não pensou em nenhum momento me abandonar. Quando todos desviaram o olhar ao ver que eu estava morrendo.

Muitos tentaram esquecê-la.

Esquecer que a cada dia estamos mais perto.

Nosso corpo irá falecer e a morte estará ali...

... Bem a sua frente, esperando o momento certo de levar sua alma.

Todos nós passamos por isso algum dia. Em diferentes momentos e em diferentes horas. Nessas artimanhas que nesses tempos evitamos saber, na antiguidade sempre filósofos buscavam entender através de perguntas, as respostas das quais, dúvidas eram mais verdadeiras do que a própria verdade da questão.
Essa é a nossa certeza. A morte que mesmo quando tentamos ainda vem. É a nossa única certeza que nunca é mudada. A imortalidade prova isso, já que até agora não existiu e sem ela, a vida logo se tem seu fim.
Não sabemos como vem, mas sabemos que a cada dia nosso corpo caminha para uma morte lenta.



Mas quem quer saber da verdade?
E na solidão eu fiquei, pois reclamar da falta de sentimentos vividos já tinha me cansado. A alegria acaba. A alegria machuca. E nada muda. Só piora.